Quase metade dos aprovados em medicina no Sisu migra de estado
Com 46,85%, mobilidade em medicina é o triplo da média geral, diz MEC. Em 11 estados, alunos locais são minoria entre os matriculad...
https://ipu24horas.blogspot.com/2013/05/quase-metade-dos-aprovados-em-medicina.html
Quase metade das vagas
de medicina oferecidas pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) no
primeiro semestre deste ano – que estão entre as mais cobiçadas do
processo seletivo – foi ocupada por estudantes que não moravam no mesmo
estado da instituição em que vão estudar. Levantamento feito pelo
Ministério da Educação a pedido do G1 mostra que, das
1.731 matrículas em cursos de medicina oferecidas pelo Sisu, 46,85%
foram preenchidas por calouros de outros estados. Veja a tabela da mobilidade de medicina pelo Sisu
A migração provocada
pelas vagas em medicina é mais que o triplo da mobilidade média
registrada pelo governo federal na edição do primeiro semestre de 2013
do Sisu. Segundo os números do MEC, 13% dos matriculados em todas as 118.996 vagas já preenchidas no país são "forasteiros" nos estados em que vão fazer faculdade.
Leia também: Prejuízos com o Sisu e Enem: "forasteiros" tomam vagas de Medicina no Norte e no Nordeste
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O Sisu
usa as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para selecionar
candidatos. As inscrições para a edição do 1º semestre de 2014 terminam
às 23h59 desta segunda-feira (27).
Para os cursos de
medicina em 2013 foram oferecidas vagas em universidades públicas de 19
estados, menos no Distrito Federal, Amapá, Espírito Santo, Pará, Rio
Grande do Norte, Rondônia, Santa Catarina e Sergipe.
ESTADOS COM MAIS 'FORASTEIROS' APROVADOS EM MEDICINA PELO SISU EM 2013 | |
---|---|
UF | Calouros de fora |
Acre | 95% |
Amazonas | 95% |
Roraima | 83% |
Mato Grosso | 80% |
Paraná | 71% |
Pernambuco | 69% |
Mato Grosso do Sul | 62% |
Paraíba | 60% |
Rio Grande do Sul | 58% |
Bahia | 54% |
Tocantins | 50% |
Fonte: MEC |
Acre, Amazonas, Roraima,
Mato Grosso e Paraná foram os que mais receberam calouros de medicina
de outros estados, com mais de 70% de estudantes "forasteiros". No
total, em 11 estados os alunos locais são minoria entre as matrículas do
curso (Veja na tabela ao lado).
Para especialistas, a
alta mobilidade das vagas de medicina, em comparação com a média geral, é
um fenômeno não muito diferente do que já acontecia antes nos
vestibulares para carreiras muito disputadas, onde os estudantes com
acesso aos melhores métodos de ensino costumavam ocupar a maioria das
vagas.
Eles afirmam que, além
de investimentos na melhoria das redes públicas de ensino, as políticas
de ações afirmativas podem auxiliar no processo de democratização das
vagas mais procuradas.
Paulistas ocupam mais vagas de fora
Assim como na média de todas as vagas, os paulistas também são os que mais conseguiram aprovações em vagas oferecidas longe de casa. Dos 811 universitários que mudaram de estado para fazer medicina, 211 (ou 26%) são de São Paulo. Um dos motivos para o "êxodo" de paulistas, segundo especialistas, é a baixa oferta de vagas.
Assim como na média de todas as vagas, os paulistas também são os que mais conseguiram aprovações em vagas oferecidas longe de casa. Dos 811 universitários que mudaram de estado para fazer medicina, 211 (ou 26%) são de São Paulo. Um dos motivos para o "êxodo" de paulistas, segundo especialistas, é a baixa oferta de vagas.
PREENCHIMENTO DAS VAGAS DE MEDICINA NO SISU DO 1º SEMESTRE |
---|
Quem mais ofereceu vagas: Ceará: 336 Rio de Janeiro: 245 Rio Grande do Sul: 219 Minas Gerais: 212 Mato Grosso: 104 |
Quem mais ocupou vagas: Minas Gerais: 279 São Paulo: 255 Ceará: 246 Rio de Janeiro: 167 Goiás: 117 |
Fonte: MEC |
Entre as quatro
instituições federais do estado que participam do Sisu, só a
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) oferece vagas de medicina.
Neste ano, 53 matrículas foram feitas. Na Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp), o curso é um dos sete que ainda não trocaram o
vestibular pelo Sisu. A instituição já descartou a mudança para as vagas
de medicina em 2014.
São Paulo é o segundo em
número absoluto de aprovados na carreira pelo Sisu 2013, mas está
apenas na 11ª colocação na lista de estados com o maior número de vagas
oferecidas no sistema.
A três dias do fim das
inscrições, segundo os balanços divulgados pelo MEC, os três estados que
mais inscreveram candidatos no Enem 2013 são São Paulo, Minas Gerais e
Ceará. Eles também são os três que mais aprovaram calouros em medicina.
Juntos, eles respondem por 45% das vagas na carreira ocupadas neste
semestre. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, atribui a
predominância dos candidatos de alguns estados na concorrência pelas
vagas de medicina ao resultado da meritocracia na qual o Sisu está
baseado.
De acordo com o
professor Tufi Machado Soares, que dá aulas de estatística da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), cursos como medicina e
odontologia já eram ocupados em todo o país por uma minoria da elite,
porque a concorrência tem sido historicamente alta. "Isso já acontecia
normalmente, e a tendência com o Sisu é aumentar. São cursos que
demandam muito do estudante, mas têm um grande retorno", explica.
No sentido horário:
Luciana Rabelo, João Vitor Peter, Tialisson Scotti e Agnes Costa,
alguns dos 811 calouros de medicina do Sisu que mudaram de estado para
fazer faculdade (Foto: G1)
Alunos locais perdem vagas
Durante as inscrições do
Sisu, o MEC divulgou um balanço parcial com a lista dos dez cursos com a
maior concorrência. Nove deles eram de medicina, incluindo os das
universidades federais do Acre (Ufac) e do Amazonas (Ufam). Depois de
preenchidas as vagas, o relatório de mobilidade mostra que, no Acre, das
37 matrículas feitas até maio, apenas duas eram de estudantes acreanos.
Cinco são mineiros e cinco, paulistas. No caso do Amazonas, só três
candidatos locais conseguiram a aprovação, enquanto 11 calouros saíram
de São Paulo para estudar no Amazonas.
95% das vagas de medicina na Ufac e na Ufam foram preenchidas por candidatos de fora dos dois estados; apenas 2 acreanos e 3 amazonenses foram aprovados nos cursos, que estavam entre os dez mais procurados do Sisu.
Em Alagoas, 56% dos
novos alunos de medicina neste ano saíram de outros estados – a grande
maioria deles morava em estados que não fazem fronteira com a unidade da
federação para onde se mudaram.
O pró-reitor de
graduação da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Amauri da Silva
Barros, afirma ao G1 que respirou um pouco mais aliviado neste ano ao
ver o resultado do Sisu. "Foi uma situação muito difícil a de 2012. Em
medicina oferecemos 80 vagas e, no final de todas as chamadas, foram 20
alagoanos matriculados", conta. Neste ano, com a instituição na segunda
chamada da lista de espera, esse número já está "entre 20 e 25", segundo
ele, e a expectativa é preencher até 35 das vagas de medicina com
calouros locais.
Professores de cursinhos
agora correm para se atualizar nos conteúdos do Enem e ajudar os
vestibulandos de medicina alagoanos a concorrerem com os milhares de
candidatos que decidiram disputar uma vaga no curso desde o ano passado,
com a adesão total da Ufal ao Sisu.
Barros diz que a
inscrição para medicina saltou de 2.700 em 2011 para 7.800 no ano
seguinte. "E o nosso ensino básico está na UTI há anos, aí quebra a
gente."
Em entrevista ao G1,
Mercadante afirma que os indicadores educacionais ainda mostram
discrepância grande entre as regiões brasileiras, mas a solução para a
concorrência nacional criada pelo Sisu não é a reserva de vagas, e sim o
investimento na melhoria da educação. "Estamos fazendo um investimento
grande no ensino público médio, e parcerias para focar onde temos mais
dificuldade no ensino médio. Temos que melhorar a qualidade no ensino
para que haja condições de competir", afirma.
Cursinhos veem aprovação despencar
No curso pré-vestibular do Colégio Contato, em Maceió, o número de estudantes que conquistavam uma vaga em medicina na Ufal caiu drasticamente. "A nossa aprovação era de 35 alunos, 40 alunos. Hoje reduziu para dez", afirma Sandro Fonseca, coordenador do curso.
No curso pré-vestibular do Colégio Contato, em Maceió, o número de estudantes que conquistavam uma vaga em medicina na Ufal caiu drasticamente. "A nossa aprovação era de 35 alunos, 40 alunos. Hoje reduziu para dez", afirma Sandro Fonseca, coordenador do curso.
"O aluno começou a
sentir o peso do Enem, então, por conta disso, o esforço dele tem que
ser maior, ele sabe que a concorrência não é só local, é nacional" - Sandro Fonseca, coordenador do cursinho do Colégio Contato.
"Antes era muito mais fácil para um estudante alagoano entrar na medicina na Ufal", diz. Segundo Fonseca, a nota de corte do Sisu 2013 na carreira foi de 872 no Enem.
"Antes era muito mais fácil para um estudante alagoano entrar na medicina na Ufal", diz. Segundo Fonseca, a nota de corte do Sisu 2013 na carreira foi de 872 no Enem.
Para reduzir o déficit
entre os estudantes locais e os candidatos de outras partes do país, o
coordenador afirma que os professores estão buscando mais qualificação
para preparar seus vestibulandos. "A gente continua correndo atrás,
aprimorando, fazendo reciclagem de professor, de material, mudando tudo.
O aluno começou a sentir o peso do Enem. Então, por conta disso, o
esforço dele tem que ser maior, ele sabe que a concorrência não é só
local, é nacional."
Médicos que não ficam na cidade
Um dos efeitos do aumento da concorrência do curso de medicina da Universidade Federal do Acre, no entanto, foi a decisão dos vestibulandos locais de disputar uma vaga na carreira em processos seletivos de outros estados, que ainda não aderiram ao Sisu.
Um dos efeitos do aumento da concorrência do curso de medicina da Universidade Federal do Acre, no entanto, foi a decisão dos vestibulandos locais de disputar uma vaga na carreira em processos seletivos de outros estados, que ainda não aderiram ao Sisu.
Segundo Ticiana Paula Castro de Souza, diretora do cursinho Aprovação,
de Rio Branco, "os alunos não estão acreditando mais no Enem". Ela
afirma que isso ocorre tanto pelo aumento da disputa quanto pelas
polêmicas a respeito da correção da prova da redação.
"Tenho aluno aprovado na Unir [Universidade Federal de Rondônia], na UEA [Universidade Estadual do Amazonas]. Os alunos acreanos estão procurando faculdades em outras regiões onde o vestibular é melhor para eles", contou ela.
"Tenho aluno aprovado na Unir [Universidade Federal de Rondônia], na UEA [Universidade Estadual do Amazonas]. Os alunos acreanos estão procurando faculdades em outras regiões onde o vestibular é melhor para eles", contou ela.
A diretora afirma ter
visto a concorrência das vagas de medicina da Ufac subir de 40 para 200
candidatos por vaga. A maioria dos aprovados de outros estados acaba
optando por se mudar para Rio Branco porque não conseguiu vaga em outras
regiões, e o objetivo costuma ser voltar para casa após a conquista do
diploma.
"A maioria vai embora do
estado, e o estado fica sem médico. Até nisso é ruim para a cidade de
Rio Branco. A cidade está precisando de médicos", reclama Ticiana.
Jaime Tadeu Oliva,
professor do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de
São Paulo, acredita que a alta mobilidade do Sisu em cursos concorridos é
uma de várias consequências que a centralização de mais de 100 mil
vagas em um único sistema de seleção pode provocar.
"Esse efeito e
certamente muitos outros que vão se percebendo são efeitos que não se
tinha muita noção de que poderiam acontecer, nem uma avaliação segura
das suas consequências. São efeitos mais ou menos inesperados, que
precisam ser repensados", explica. Oliva não acredita que eles indiquem o
fracasso do Sisu, mas defende a possibilidade de busca de alternativas,
como uma reserva mínima de vagas.
Tufi Machado Soares, da
UFJF, acredita que a lei de cotas, que fará com que, a partir de 2016,
metade de todas as vagas das universidades federais sejam destinadas a
estudantes de escola pública e negros, pardos e indígenas, também
ajudará no processo de democratização do acesso ao ensino superior.
Fonte: G1 / Via: Netcina
Informação: Telenoticias Mundial